quinta-feira, 5 de novembro de 2009

barroco no brasil

Barroco foi um estilo de reação contra o classicismo do Renascimento, cujas bases conceituais giravam em torno da simetria, da proporcionalidade e da contenção, racionalidade e equilíbrio formal. Assim, sua estética primou pela assimetria, pelo excesso, pelo expressivo e pela irregularidade, tanto que o próprio termo "barroco", que nomeou o estilo, designava uma pérola de formato bizarro e irregular. Além de uma tendência puramente estética, esses traços constituíram uma verdadeira forma de vida e deram o tom a toda a cultura do período, uma cultura que enfatizava o contraste, o conflito, o dinâmico, o dramático, o grandiloquente, a dissolução dos limites, junto com um gosto acentuado pela opulência de formas e materiais, tornando-se um veículo perfeito para a Igreja Católica da Contra-Reforma e as monarquias absolutistas em ascensão expressarem visivelmente seus ideais. As estruturas monumentais erguidas durante o Barroco, como os palácios e os grandes teatros e igrejas, buscavam criar um impacto de natureza espetacular e exuberante, propondo uma integração entre as várias linguagens artísticas e prendendo o observador numa atmosfera catártica e apaixonada. Assim, para Sevcenko, nenhuma obra de arte barroca pode ser analisada adequadamente desvinculada de seu contexto, pois sua natureza é sintética, aglutinadora e envolvente. Essa estética teve grande aceitação na Península Ibérica, em especial em Portugal, cuja cultura, além de essencialmente católica e monárquica, estava impreganada de milenarismo e do misticismo herdado dos árabes e judeus, favorecendo uma religiosidade caracterizada pela intensidade emocional. E de Portugal o movimento passou à sua colônia na América, onde o contexto cultural dos povos indígenas, marcado pelo ritualismo e festividade, forneceu um pano de fundo receptivo.[1][2]

O Barroco apareceu no Brasil quando já se haviam passado cerca de cem anos de presença colonizadora no território; a população já se multiplicava nas primeiras vilas e alguma cultura autóctone já lançara sementes. O Barroco não foi, assim, o veículo inaugural da cultura brasileira, o Maneirismo cumpriu o papel de iniciador, mas floresceu ao longo da maior parte de sua curta história "oficial" de 500 anos, num período em que os residentes lutavam por estabelecer uma economia auto-sustentável - contra uma natureza selvagem e povos indígenas nem sempre amigáveis - até onde permitisse sua condição de colônia pesadamente explorada pela metrópole. O território conquistado se expandia em passos largos para o interior do continente, a população de origem lusa ainda mal enraizada no litoral estava em constante estado de alerta contra os ataques de índios pelo interior e piratas por mar, e nesta sociedade em trabalhos de fundação se instaurou a escravatura como base da força produtiva.[3]


Arte das Missões jesuíticas, de herança espanhola e italiana: São Francisco Xavier, Museu Júlio de Castilhos
Um índio anônimo no século XVII produziu este Cristo açoitado, hoje no Museu de Arte Sacra de Pernambuco, onde se percebe uma pletora de influências estilísticas exóticas
Anônimo: Êxtase de Santa Teresa, Igreja do Convento do Carmo, São Cristóvão. A espontaneidade naïf é uma característica de grande parte do barroco brasileiroNasceu o Barroco, pois, num terreno de luta, mas não menos de deslumbramento diante da paisagem magnífica, sentimento que foi declarado pelos colonizadores desde início [4]. Florescendo nos longos séculos de construção de um novo e imenso país, e sendo uma corrente estética e espiritual cuja vida está no contraste, no drama, no excesso, talvez mesmo por isso pôde espelhar a magnitude continental da empreitada colonizadora deixando um conjunto de obras-primas igualmente monumental. O Barroco, então, confunde-se com, ou dá forma a, uma larga porção da identidade e do passado nacionais; já foi chamado de a alma do Brasil [5]. Significativa parte desta herança em arte, tradições e arquitetura hoje é Patrimônio da Humanidade.


São Pedro papa, obra-prima da escola portuguesa. Museu de Arte Sacra de São PauloO Barroco no Brasil foi formado por uma complexa teia de influências européias e locais, embora em geral coloridas pela interpretação portuguesa do estilo. É preciso lembrar que o contexto econômico em que o Barroco se desenvolveu na colônia era completamente diverso daquele que lhe dava origem na Europa. Aqui o ambiente era de pobreza e escassez, com tudo ainda por fazer. Por isso o Barroco brasileiro já foi acusado de pobreza e incompetência quando comparado com o europeu, de caráter erudito, cortesão, sofisticado e sobretudo branco, apesar de todo ouro nas igrejas nacionais, pois muita coisa é de execução tecnicamente tosca, feita por mão escrava ou morena. Mas esse rosto impuro, mestiço, é que o torna único e inestimável.[6][7]

Também é preciso assinalar que o barroco se enraizou no Brasil com certo atraso em relação à Europa, e este descompasso, que se perpetuou por toda sua trajetória, por vezes ajudou a mesclar, de forma imprevista, elementos estilísticos que se desenvolviam localmente com outros externos mais atualizados que estavam em constante importação. Os religiosos ativos no país, muitos deles literatos, arquitetos, pintores e escultores, e oriundos de diversos países, contribuíram para esta complexidade trazendo sua variada formação, que receberam em países como Espanha, Itália e França, além do próprio Portugal. O contato com o oriente, via Portugal e as companhias navegadoras de comércio internacional, também deixou sua marca, visível nas chinoiseries que se encontram ocasionalmente nas decorações e nas estatuetas em marfim.[3]

Como exceção interessante, existe um pequeno acervo de obras de arte realizadas exclusivamente por índios ou em colaboração com os padres catequistas, fenômeno ocorrido no âmbito das Reduções jesuíticas do sul e em casos pontuais no Nordeste. Por fim, mas não menos importante, está o elemento popular e inculto, tantas vezes naïf, evidente em boa parte da produção local, já que os artistas com preparo sólido eram poucos e os artesãos autodidatas ou com pouco estudo eram a maioria do criadores, pelo menos nos primeiros dois séculos de colonização. Neste cadinho de tendências são detectados até elementos de estilos já obsoletos como o gótico na obra de mestres como o Aleijadinho. O resultado de todos estes entrecruzamentos e mesclas é o acervo original e riquíssimo que hoje se vê espalhado em praticamente todo o litoral do país, desde o extremo sul no Rio Grande do Sul até o norte, tocando o Pará. Para dentro, o estilo derramou-se por São Paulo e Minas Gerais, onde se exprimiu com a característica elegância rococó, e alcançou o Centro-Oeste deixando jóias como as encontradas em Goiás.[3][8]

No início do século XVIII, o Barroco brasileiro conseguiu uma face relativamente unificada, no chamado "estilo nacional português", cujas raízes eram de fato italianas, sendo adotado sem grandes variações nas diversas regiões, e a partir de 1760, por influência francesa, se suavizou no Rococó, bem evidente nas igrejas de Minas Gerais. No fim do século XVIII o Barroco brasileiro já se encontrava perfeitamente "nacionalizado", tendo dado inumeráveis frutos anteriores de alto valor, e apareceram as figuras célebres que o levaram a uma culminação, e que iluminaram em grande estilo também o seu fim como corrente estética dominante: Aleijadinho na arquitetura e na escultura, e na pintura Mestre Ataíde. Eles epitomizam uma arte que havia conseguido amadurecer e se adaptar ao ambiente de um país tropical e dependente da Metrópole, ligando-se aos recursos e valores regionais e constituindo um dos primeiros grandes momentos de originalidade nativa, de brasilidade genuína. Demonstrando possuírem grande força plástica e expressiva, tornaram-se ícones da cultura nacional. O grande ciclo de onde surgiram foi logo depois abruptamente interrompido com a imposição oficial da novidade neoclássica de inspiração francesa, no início do século seguinte.[3]

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

conclusão

O Barroco no Brasil é um tema que atrai o estudioso do nosso passado e está longe de ter sido suficientemente explorado em todos os seus ângulos. Hoje vem sendo estudados os artitas coloniais sob varios aspectos do seculo.
O Barroco exprime o imponderável, visando o infinito, pois os tetos das igrejas limitam o espaço, quando decorados com pinturas que os projetam para as nuvens representando a ascensão da Virgem, do Nosso Senhor ou a corte celeste. Era uma arte para exaltar a glória de Deus, é cheia de formas esvoaçantes, que exprimem a espiritualização da fé.
O Barroco deixou sua marca onde havia riqueza e nas regiões onde não tinha ouro, teve expressão mais modesta. No Brasil surgiu numa época em que o povo estava totalmente voltado para religião e fé.
Período Barroco foi marcado pela força da Igreja exercendo um poder político, social e econômico tornando os elementos da sociedade enfraquecidos, estendeu-se a todas as manifestações culturais e artísticas européias e latino-americanas. O termo Barroco é usado para designar o estilo que, partindo as artes plásticas, teve seu apogeu literário no século XVII, prolongando-se ate meados do século XVIII.
Devido a razões essencialmente didáticas, costuma se delimitar este movimento, no Brasil, entre 1601 e 1768.

terça-feira, 3 de novembro de 2009




Gregório de Matos
Poeta barroco brasileiro, nasceu em Salvador/BA, em 20/12/1623 e morreu em Recife/PE em 1696. Foi contemporâneo do Pe. Antônio Vieira. Amado e odiado, é conhecido por muitos como "Boca do Inferno", em função de suas poesias satíricas, muitas vezes trabalhando o chulo em violentos ataques pessoais. Influenciado pela estética, estilo e sintaxe de Gôngora e Quevedo, é considerado o verdadeiro iniciador da literatura brasileira.


Gregório de Matos

De família abastada (seu pai era proprietário de engenhos), pôde estudar com os jesuítas em Salvador. Em 1650, com 14 anos, abala para Portugal, formando-se em Direito pela Universidade de Coimbra em 1661. É nomeado juiz-de-fora em Alcácer do Sal (Alentejo) em 1663. Em 1672 torna-se procurador de Salvador junto à administração lisboeta.

Volta ao Brasil pouco depois de 1678. Quarentão e viúvo, tenta acomodar-se novamente na sociedade brasileira, tarefa impossível. Apesar de investido em funções religiosas, não perdoa o clero nem o governador-geral (apelidado "Braço de Prata" por causa de sua prótese) com seu sarcasmo. Mulherengo, boêmio, irreverente, iconoclasta e possuidor de um legendário entusiasmo pelas mulatas, pôs muita autoridade civil e religiosa em má situação, ridicularizando-as de forma impiedosa.

Provocando a ira de um parente próximo do governador-geral do Brasil, foi embarcado à força para Angola (1694), pois corria risco de vida. Na África, curte a dor do desterro, espanta-se diante dos animais ferozes, intriga-se com a natureza, dá vazão ao seu racismo e se arrisca à perda da identidade. Sua chegada à Luanda coincide com uma crise econômica e com uma revolta da soldadesca portuguesa local. Gregório interferiu, pacificou o motim, acalmou (ou traiu?) os revoltosos e, como prêmio, voltou para o Brasil, para o Recife, onde terminaria seus dias.

Sua obra poética apresenta duas vertentes: uma satírica (pela qual é mais conhecido) que, não raro, apresenta aspectos eróticos e pornográficos; outra lírica, de fundo religioso e moral.

Ao contrário de Vieira, Gregório não se envolveu com questões magnas, afetas à condução da política em curso: não lhe interessavam os índios, mas as mulatas; não o aborreciam os holandeses, mas os portugueses; não cultivou a política, mas a boêmia; não "fixou a sintaxe vernácula", mas engordou o léxico; não transitou pelas cortes européias, mas vagabundeou pelo Recôncavo.

É uma espécie de poeta maldito, sempre ágil na provocação, mas nem por isso indiferente à paixão humana ou religiosa, à natureza, à reflexão e, dado importante, às virtualidades poéticas duma língua européia recém-transplantada para os trópicos. Ridicularizando políticos e religiosos, zombando da empáfia dos mulatos, assediando freiras e mulatas, ou manejando um vocabulário acessível e popular, o poeta baiano abrasileirou o barroco importado: seus versos são um melting pot poético, espelho fiel de um país que se formava.

Finalmente, o que muitos não devem saber é que Gregório também é considerado antecedente do nosso cancioneiro, pois fazia "versos à lira", apoiando-se em violas de arame para compor solfas e lundus. O lundu, criado nas ruas, tinha ritmo agitado e sincopado, e melodia simples com resquícios modais, sendo basicamente negro. Do lundu vieram o chorinho, o samba, o baião, as marchinhas e os gêneros de caráter ritmado e irreverente.

Fonte: www.secrel.com.br

GREGÓRIO DE MATOS
A poesia apógrafa ( reprodução de um manuscrito original ) de Gregório de Mattos e Guerra (1636-1695) permaneceu guardada em códices existentes em Portugal (o mais importante é da Biblioteca Nacional de Lisboa , Secção de Reservados , número 3.576) no Brasil e nos USA . Foi o historiador Francisco Adolfo Varnhagen , em 1850 , que publicou um conjunto de 39 poemas no "Florilégio da Poesia Brasileira ", editado em Lisboa . Daí em diante Gregório de Mattos passa a constar de várias antologias e "Parnasos", até hoje , tendo a sua obra apógrafa publicada , em parte , por Alfredo do Valle Cabral (1882) , Afrânio Peixoto (1923 - 1933) , em 6 volumes ( Edição da Academia Brasileira de Letras ) e James Amado (1968) , que edita as suas "completas ", em 7 volumes ,reeditada em 2 volumes, Record,1990, com o título de Obra Poética, contendo toda a parte erótica, pornográfica e grotesca , até então desconhecida e que Afrânio Peixoto havia censurado.


Gregório de Matos

A fortuna crítica do poeta inicia-se no século XVIII com uma biografia manuscrita que aparece anexa a alguns códices , com variantes , e da autoria de Manuel Pereira Rabelo . Foi esta biografia uma peça importante para que nós pudéssemos promover a revisão da vida do poeta , na busca incessante de fontes documentais . A partir do século XIX, e até hoje , o poeta Gregório de Mattos teve avolumada sua biografia e os estudos a respeito de sua vida e sua obra . No momento estamos concluindo uma mais extensa indicação de fontes bibliográficas e documentais sobre o poeta satírico mais importante da literatura de língua portuguesa no período barroco . A obra apógrafa de Gregório de Mattos mais cedo ou mais tarde será objeto de uma edição crítica, contando a sua realização com uma equipe de especialistas . Como disse o Mestre Antonio Houaiss, "o fato é que a pesquisa histórica em torno da vida de Gregório já atingiu um inesperável grau de documentação , pois há duas décadas a documentabilidade de sua vida era algo de que não se esperava muito ". Em verdade, a pesquisa , no sentido biográfico, muito tem ajudado e pode ajudar , com a localização de documentos e códices poéticos, para o retrato do poeta vagante Gregório de Mattos e para o conhecimento da sua obra . Temos nos dedicado a localizar, no Brasil e em Portugal , essas fontes documentais (vida e obra), que abrem caminho para uma compreensão do poeta brasileiro e das suas identidades como magistrado, em Portugal , e clérigo e poeta na sua terra natural , o Brasil , que ele vai chamar, certa feita, de "peste do pátrio solar".

Fonte: www.ufba.br

GREGÓRIO DE MATOS
DADOS BIOGRAFICOS
Gregório de Matos Guerra nasce na Bahia, em1623, e morre no Recife em 1696. Filho de fidalgo português e de mãe brasileira, cursou humanidades com os Jesuítas da Bahia e se formou em Direito pela Universidade de Coimbra. Passou a advogar em Lisboa, ocupando cargos de magistratura. Por sua sátira, foi obrigado a voltar à Bahia e, aqui, esta foi aguçada, tornando-o motivo de reações e perseguições. Acabou deportado para Angola, retornando um ano antes de morrer em Pernambuco. Gregório de Matos, que em vida nada publicou, produziu uma obra vasta e diversificada, mas, em sua época, muitos de seus poemas circulavam entre o povo, oralmente ou em manuscritos.

CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS
A poesia de Gregório de Matos é religiosa e lírica. Absolutamente conforme com a estética do Barroco, abusa de figuras de linguagem; faz uso do estilo cultista e conceitista, através de jogos de palavras e raciocínios sutis. As contradições, próprias, talvez, de sua personalidade instável, são uma constante em seus poemas, oscilando entre o sagrado e o profano, o sublime e o grotesco, o amor e o pecado, a busca de Deus e os apelos terrenos.

É mais conhecido por sua sátira ferina, azeda e mordaz, usando, às vezes, palavras de baixo calão, daí seu epíteto Boca do Inferno. Critica todos os aspectos da sociedade baiana, particularmente o clero e o português. A atitude nativista que disso resulta é apenas conseqüência da situação na Colônia brasileira.

Fonte: www.mundobrasil.hpg.ig.com.br

GREGÓRIO DE MATOS
Estudou com padres jesuítas, em Salvador, no final da década de 1640. Em Coimbra, Portugal, formou-se em Direito, em 1661.

Voltando ao Brasil no início da década de 1680, foi desembargador e tesoureiro-mor, em Salvador, e acabou destituído de seus cargos eclesiásticos pela recusa de receber ordens sacras e usar batina.

Autor de composições satíricas e improvisos repletos de críticas pessoais, sociais e políticas, Gregório de Matos acabou envolvido em intrigas e perseguições, pela irreverência de suas sátiras. Seus poemas circulavam em manuscritos ou eram transmitidos oralmente; o poeta não publicou livros em vida. Em 1694, desentendimentos políticos lhe custam o degredo para Luanda, Angola.

Um ano depois, retornaria ao Brasil, como recompensa por ter defendido Portugal em conflitos coloniais. Um dos maiores nomes de nossa poesia barroca, Gregório de Matos ficou conhecido como “boca-do-inferno” por seus poemas satíricos, obscenos, maledicentes. Mas também tematizou o amor idealizado, o temor divino e a reflexão moral, em versos influenciados pela poesia de Gôngora e Quevedo.

Fonte: www.itaucultural.org.br